Não costumo escrever sobre mim neste espaço. Na verdade, há bastante tempo que já não escrevo nada nesta nesga de mundo virtual que já congregou os meus sonhos e preencheu-me de esperanças a vaga mente de criança em rebeldia... A faculdade que abracei não deve ter me auxiliado neste particular. O curso de Direito, em que pese a propalada intenção de produzir profissionais humanistas, na proposta vetusta que secundou o decreto de imperial que criou no país o curso de Ciências Jurídicas, tem demonstrado - ao menos em minha tênue cosmovisão - acalentar o ideal de produzir seres capazes de decodificar as leis e os pensamentos humanos em teoremos linguísticos com conteúdo lógico, quase matemático. Há, obviamente, disciplinas que não se coadunam com essa rigidez, e seria perda de tempo enumerá-las. Falo de essência, de feeling, de qualquer coisa que transcenda a puta hemorragia do mundo cotidiano e investigue com mais nitidez as águas turvas da consciência humana...
Desculpe. Empolguei-me. É ainda resquício de uma existência entregue aos desvarios do sonho. Despi-me disso há algum tempo - não totalmente, é certo. Ainda não me tornei um misantropo, nem aspiro à tranquilidade que, dizem, somente um ermitão empedernido pode fruir em sua cascata de emoções primevas. Quando mais jovem - tenho vinte anos incompletos, no momento - acreditava numa série de coisas que hoje me fazem sorrir. O sarcasmo, que nos meus tempos de pré-adolescência era apenas uma existência parasita e inofensiva, parece invadir-me cada recanto da alma. Há resistência, certamente. Amo apaixonadamente uma princesa de dezessete anos de idade, de olhos verdes, boca magnética e ternura inesgotável. Mas uma boa parcela da alma já foi tomada por um sentimento indefinido, mescla de tédio, descrença, quietude, tranquilidade e sofrimento.
Na verdade, enfarei-me do tempo. Quando quedo silente, cheio de uma reverência ancestral pelas coisas mundanas que são maiores que minha compreensão, percebo que a poeira temporal mancha cada recanto de pensamento que eu possa engendrar, mesmo nos meus paraísos mais íntimos, e então nada mais interessa, tudo se sedimenta num tédio sem remédio, e ao final abandono qualquer quimera. A minha forma peculiar de observar o mundo, a calma com que procuro traduzir minhas impressões e conduzir a marcha de minha existência, não obstante os arroubos que eventualmente se me irrompem, e principalmente a paixão por uma rotina obediente, sem grandes sobressaltos nem emoções, desenvolvida num ritmo homogêneo, é sinal de uma resistência obstinada, uma indignação surda, contra as molas do tempo. Costumo reclamar de forma veemente contra a sua corrida insana, contra esse jeito linear que enseja a perda das melhores horas, trasvestidas em céleres sessenta minutos que mal conseguem abarcar as necessidades rotineiras. As pessoas que me escutam riem, dizem que é normal uma tal situação, que o tempo precisa exercer com bastante fidelidade o seu ofício. Discordo: o tempo tem acelerado a sua atuação, penetrado em domínios em que lhe não era facultada a entrada, e tem tomado de assalto as vidas.
Desculpe. Empolguei-me. É ainda resquício de uma existência entregue aos desvarios do sonho. Despi-me disso há algum tempo - não totalmente, é certo. Ainda não me tornei um misantropo, nem aspiro à tranquilidade que, dizem, somente um ermitão empedernido pode fruir em sua cascata de emoções primevas. Quando mais jovem - tenho vinte anos incompletos, no momento - acreditava numa série de coisas que hoje me fazem sorrir. O sarcasmo, que nos meus tempos de pré-adolescência era apenas uma existência parasita e inofensiva, parece invadir-me cada recanto da alma. Há resistência, certamente. Amo apaixonadamente uma princesa de dezessete anos de idade, de olhos verdes, boca magnética e ternura inesgotável. Mas uma boa parcela da alma já foi tomada por um sentimento indefinido, mescla de tédio, descrença, quietude, tranquilidade e sofrimento.
Na verdade, enfarei-me do tempo. Quando quedo silente, cheio de uma reverência ancestral pelas coisas mundanas que são maiores que minha compreensão, percebo que a poeira temporal mancha cada recanto de pensamento que eu possa engendrar, mesmo nos meus paraísos mais íntimos, e então nada mais interessa, tudo se sedimenta num tédio sem remédio, e ao final abandono qualquer quimera. A minha forma peculiar de observar o mundo, a calma com que procuro traduzir minhas impressões e conduzir a marcha de minha existência, não obstante os arroubos que eventualmente se me irrompem, e principalmente a paixão por uma rotina obediente, sem grandes sobressaltos nem emoções, desenvolvida num ritmo homogêneo, é sinal de uma resistência obstinada, uma indignação surda, contra as molas do tempo. Costumo reclamar de forma veemente contra a sua corrida insana, contra esse jeito linear que enseja a perda das melhores horas, trasvestidas em céleres sessenta minutos que mal conseguem abarcar as necessidades rotineiras. As pessoas que me escutam riem, dizem que é normal uma tal situação, que o tempo precisa exercer com bastante fidelidade o seu ofício. Discordo: o tempo tem acelerado a sua atuação, penetrado em domínios em que lhe não era facultada a entrada, e tem tomado de assalto as vidas.
É domingo. A noite já começa a tornar-se mais sólida e perceptível no céu desmaiado. Novamente, consegui escrever apenas o suficiente para deixar impressa uma algaravia de impressões descontextualizadas que mal merecem uma atenção mais cuidadosa. O jeito, pelo visto, é recolher-me ao meu silêncio repleto de palavras arrevesadas, de frases engulhadas em estômagos hipotéticos, de hesitações e imprecisões, e persuadir-me, de uma vez por todas, que não há literatura que baste para conjurar o desespero tão inocente de existir.
Um comentário:
É bom que as pessoas se expressem. Eu tenho um pet shop e sempre converso com as pessoas, porque as pessoas gostam de falar e eu também gosto de falar.
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