domingo, 27 de dezembro de 2009

Melodia incipiente…

Do alto do morro, o homem contemplava a paisagem que se estendia por quilômetros silenciosos. De quando em quando suspirava. Era uma hora calma, os pássaros guinchavam, longínquos, no céu as nuvens faziam-se e desfaziam-se, preguiçosamente. Ele refletia – mas não seria capaz de definir o conteúdo de seus pensamentos. O que importava eram os sentimentos inexplicáveis que o assolavam naquele espaço plácido. Eram um misto de tranquilidade e desespero – uma amálgama de sentimentos tão difusos que as palavras não comportariam qualquer descrição.
 
Subitamente ele fechou os olhos, procurou cegamente os caminhos de sua felicidade naquele instante de placidez que o atravessava como uma faca, os olhos fechados, o rosto retesado, as mãos repousadas sobre o parapeito do mirante. Ficou algum tempo nessa atitude, distante da indigesta humanidade que o angustiava e preso naquela condição primária de ser vivo relutando em morrer. Quando abriu os olhos, as pupilas brilhavam tristemente. Os lábios descerraram-se, e o homem começou a cantar, incipiente como uma criança que acabasse de descobrir a existência de melodias no ar do mundo – enquanto uma aragem fresca agitava a copa das árvores e o tempo estacionava seu cansaço sobre a terra em perene inquietude
 
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