terça-feira, 17 de junho de 2008

Rosário de sonhos

José Bueno de Milachia sonhou a vida inteira. Mesmo acordado as imagens deslizavam sobre seus olhos, escorriam silêncios e convergiam para um receptáculo bojudo: a velha ampulheta do Santuário Apofênico. José sobressaltava-se com facilidade, via espelhos imaginários à sua volta, pressentia reflexos estrambóticos para sua figura acesa e ossuda, que suscitava risos aos colegas, e calava-se, ensimesmado.

Ao morrer, teve um sonho fugaz. Sonhou que todo o arsenal onírico que engendrara na vida entrelaçava-se num rosário endurecido, machucado já por futuras ladainhas. Quando um lampejo de compreensão lhe assomou nas reflexões desvairadas, percebeu desolado que já baixara a noite, a triste noite da inexistência, e que não era mais José Bueno de Milachia. Tornara-se sonho, punhado de irrealidade, desejo. E silêncio.

3 comentários:

Anônimo disse...

E também pq dormir faz bem,,, rs

Abraços e sociais invenções!

Anônimo disse...

muito bom

Borges de Garuva disse...

Bonito este Borges.
;)